10/11/2016 13h35 - Atualizado em 10/11/2016 21h03

Secretária de Doria, Soninha defende substância da maconha contra o crack

Estudos apontam que substância da maconha pode tratar doenças.
Soninha foi anunciada chefe da Secretaria de Desenvolvimento Social.

William SoaresDo G1 São Paulo

Soninha fala com jornalistas em evento que anunciou novos secretários de Doria (Foto: William Soares / G1)Soninha fala com jornalistas em evento que anunciou novos secretários de Doria (Foto: Will Soares/G1)

A vereadora Soninha Francine, anunciada nesta quinta-feira (10) secretária de Desenvolvimento Social do prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou acreditar que o uso de canabinóides, substâncias encontradas na maconha como o THC e o canabidiol, pode facilitar a reabilitação de usuários de crack. Ela disse que pretende levar a discussão a Doria e ao futuro secretário de Saúde, Wilson Polara.

Tanto o canabidiol quanto o THC são substâncias encontradas na maconha e que, segundo estudos científicos, têm utilidade médica para tratar diversas doenças, especialmente as neurológicas. Em março, a Anvisa autorizou a prescrição e manipulação de medicamentos a base da planta da maconha (Cannabis sativa), incluindo o tetrahidrocannabinol (THC).

Apesar de defender o consumo de substâncias da maconha na reabilitação de usuários de crack, Soninha não informou de que forma o uso ou a distribuição das substâncias devem ocorrer. "O que eu defendo, em redução de danos, e aí é super-heterodoxo, não deveria ser mas ainda é, é você usar canabinóides como forma de reduzir os efeitos, o sofrimento da abstinência de uso de crack", afirmou Soninha.

"Tem pesquisas científicas em universidades federais que indicam isso", completou, no evento em que foram anunciados oito novos secretários da gestão de Doria.

De acordo com a futura secretária, não se trata de "fumar maconha para largar o crack", mas usar a experiência como "modo de atenuar o sofrimento" do usuário. Ela ainda comparou o princípio ativo da planta ao da morfina. "Alguém é contra o uso da morfina no tratamento de câncer?", questionou.

Soninha também analisou o programa "De Braços Abertos", implementado na gestão do prefeito Fernando Haddad e voltado para a reabalitação dos usuários de crack. Segundo ela, o programa tem elementos positivos, mas alguns pontos precisam ser revisados, como o pagamento em dinheiro aos que trabalham na varrição de ruas da cidade. 

Para a vereadora, o dinheiro deveria ser substituído por outros benefícios, como vouchers para frequentar o cinema ou ir em um restaurante.  "O usuário de drogas, o dependente, ele tem muita dificuldade para lidar com dinheiro. Ele não pode nem ver a droga de longe que já tem dificuldade em lidar com a sua própria abstinência", justifica.

À noite, Soninha Francine publicou um post em seu perfil no Facebook em que expõe seu posicionamento a respeito do tema, mas deixando claro que a Secretaria de Desenvoiovimento Social nada pode fazer a respeito. Veja: 

"MACONHA & CRACK: sim, eu me identifico com a corrente de pensamento que defende a política de "redução de dano". Que acredita, por exemplo, que distribuir seringas para que usuários de drogas injetáveis nao transmitam/sejam contagiados por HIV é melhor para eles e pra todo mundo - o que causou profunda controversia nos anos 90, mas foi bancada por alguns corajosos como Davi Capistrano. E que defende que, se o uso de maconha como recurso terapêutico pode ajudar o dependente de crack ou cocaína a lidar com os efeitos e o sofrimento da abstinência, e assim ter mais condição de se libertar da dependência, isso deve ser seriamente levado em consideração.

E o que a Secretária de Desenvolvimento Social pode efetivamente fazer em relação a isso? Nada. Em primeiro lugar, porque se trata de uma pauta da Saúde, que é responsável pelos protocolos de tratamento. Segundo, porque esse ainda é um procedimento experimental, longe de ser adotado como política pública. Mas eu defendo que a Universidade investigue seriamente a possibilidade, sem tabu nem censura.

O Dr Reinaldo Laranjeiras, um dos mentores do Recomeço, abomina a ideia. Ele nao concorda, em hipótese alguma, que o uso de maconha possa ser admitido como "antídoto". Outros especialistas de tanto quilate quanto ele avaliam que os possíveis danos do uso de maconha nem se comparam aos danos do uso compulsivo de crack ou cocaína. O que devia simplesmente ser uma divergência vira uma questão moral, ideológica etc. Aí eu pergunto: alguém é contra o uso de morfina para minimizar a dor dos doentes de câncer? Então vamos nos permitir pensar, debater (ao menos isso!), pesquisar, experimentar. Até os EUA que elegeram Trump presidente estão conseguindo lidar com isso com menos alarme."


 

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